
Pregorexia – como identificar?
Durante as 40 semanas de gestação, o corpo da mulher atravessa profundas modificações anatômicas, fisiológicas e bioquímicas.
As mudanças na alimentação, na forma e no peso corporais inevitáveis no contexto gestacional, podem desencadear ou exacerbar comportamentos disfuncionais relacionados à comida e ao corpo. Esse quadro leva ao aumento da ansiedade e à preocupação com as dimensões corporais em mulheres gestantes que apresentem ou não histórico de Transtornos Alimentares (TAs). A presença de um TA na gravidez vem acompanhada de riscos tanto para mãe quanto para o feto, incluindo aumento na incidência de abortos, baixo peso no nascimento, complicações obstétricas, hiperemese gravídica, diabetes gestacional, pré-eclampsia e depressão pós-parto.
O aumento da incidência e da preocupação com os TAs durante a gestação levou à criação de um termo para designar esse tipo de transtorno: pregorexia. O termo pregorexia deriva da mistura das palavras ‘pregnancy’, que significa gravidez em inglês, e ‘orexia’, de orexis, que significa apetite.
Em estudos, participantes utilizavam comportamentos compensatórios inadequados para prevenir o ganho de peso, relataram sentirem-se culpadas pelas possíveis consequências de seu comportamento no feto, mas em contrapartida esse comportamento trazia um alívio imediato para a angústia gerada pelas mudanças corporais e psíquicas advindas da gestação. Por fim, os autores sugerem a existência de três categorias de mães com TAs: as incapazes de cessar seus comportamentos alimentares disfuncionais e perigosos durante a gravidez; as que são capazes de interromper temporariamente esses comportamentos durante a gravidez, mas são vulneráveis à recaídas após o parto; e as que abandonam seu controle alimentar e corporal durante a gravidez e conseguem manter essa mudança após o parto.
As pacientes costumam ocultar seus sintomas devido à vergonha e/ou culpa, por isso, se faz ainda mais importante estar atento à sinais como: ausência de ganho de peso ou ganho de peso inadequado ao longo dos meses gestacionais; compulsão alimentar frequente com sensação de perda de controle (identificar essa sensação é importante, pois muitas gestantes podem ter mais fome e por isso comer mais devido à própria gravidez); vômitos muito frequentes e auto induzidos por medo de ganhar peso; exercícios físicos extenuantes, preocupação exagerada com a forma corporal, entre outros. Identificar comportamentos alimentares inadequados em gestantes é fundamental para prevenir complicações no período pré-natal e após o parto. O acompanhamento dessas pacientes por equipe multidisciplinar é apontado por pesquisadores como fundamental para trabalhar as questões psíquicas e nutricionais dessa combinação perigosa que pode gerar sequelas físicas e emocionais, além de grande sofrimento para as futuras mães.
Referências:
American Psychiatry Association.Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-5.5th.ed. Washington: American PsychiatricAssociation, 2013.
Tuval-Mashiach, R. Ram, A. Shapiro, T.Shenhav, S.& Gur, E.(2013).Negotiating maternal identity: mothers with eating disorders discuss their coping. EatingDisorders, 21 (1), 37-52 PMID: 23241089.
Tierney, S. Fox, J. Butterfield, C. Stringer, E. &Furber, C. (2011). Treading the tightrope between motherhood and an eating disorder: A qualitative study International Journal of Nursing Studies, 48 (10), 1223-1233 DOI: 10.1016/j.ijnurstu.2010.11.007.